EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA, DEMOCRÁTICA E VIVA
Manifesto da chapa candidata à diretoria executiva da ADUFABC para o biênio 2022-2024
Caros/as/es colegas docentes,
Caros/as/es colegas servidores técnico-administrativos e funcionários em situação de terceirização,
Caros/as/es estudantes,
Nós, que assinamos esta carta-manifesto, somos professores e professoras da UFABC que trabalhamos muito e trabalhamos duro nas nossas aulas, nos nossos grupos de pesquisa e laboratórios, nas nossas atividades de extensão e nas nossas muitas e variadas funções administrativas. Orientamos, ensinamos, estudamos e trabalhamos para mostrar à comunidade universitária e à sociedade brasileira que fazemos jus ao investimento público que – a duras penas – nos mantém de pé.
Esse é o esforço comum de toda a categoria docente que, apesar de tudo isso, nunca se viu tão atacada quanto agora. Temos um governo federal que trata as universidades como inimigas, que despreza o conhecimento que produzimos em todas as áreas, que desfinancia até o limite da existência as instituições responsáveis por 95% da produção científica nacional. Com salários congelados há cinco anos, a inflação crescente corrói nossos orçamentos familiares. Os impactos da reforma da previdência e de outras mudanças legais recentes fragilizaram ainda mais nossa carreira, como ocorreu também com os servidores técnico-administrativos. Temos verbas de ensino, pesquisa e extensão cortadas. E vivemos sob a pressão de ver nossos/as estudantes, depois de dois duros anos de pandemia e desastre econômico e social, em enormes dificuldades financeiras, tensionados entre o sofrimento psíquico e a falta de perspectiva, com enormes dificuldades de viver todas as potencialidades da experiência universitária.
Sabemos que existem dificuldades enormes para nossa categoria, como tendências de desagregação, o crescimento da burocratização, o excesso de trabalho, as consequências de mais de dois anos de isolamento social, a pressão do ensino remoto em expansão no sistema privado, o desânimo de muitos e muitas de nós que, durante a pandemia, viveram em níveis distintos crises pessoais, profissionais e políticas. Nesse contexto, o isolamento só nos enfraquece. E os momentos de crise são, também, momentos de oportunidade. Por isso, acreditamos que podemos, no próximo período, construir coletivamente, a UFABC que sempre sonhamos: uma comunidade conectada pelos valores democráticos com políticas de permanência robustas que possibilitem a todos, todas e todes que aqui ingressam a dedicação necessária ao ensino, à pesquisa e à extensão, que zele mais cuidadosamente pela participação da maioria e pelos direitos das minorias; enfim, uma universidade onde espaços hoje vazios se encham de vida e diálogo. O tempo em que vivemos nos convoca a agir.
Por isso, a despeito das dificuldades marcadas, é também preciso afirmar a centralidade dos esforços de nossa categoria para uma boa qualidade na pesquisa, no ensino e na extensão. Não é de pouca importância o impacto do nosso ensino, pesquisa e extensão sobre a vida social em condições tão precárias como as que vivemos nos últimos anos. Enquanto servidores públicos, pudemos atuar em pontos sensíveis de nossa sociedade, assegurando uma rede de proteção a partir de dados e muita solidariedade entre aqueles que vivem nas zonas de maior vulnerabilidade social. Na contracorrente de um ideário de invisibilidade do trabalho docente e científico, própria de um obscurantismo político e cultural que produz apenas o desmonte, é no conhecimento e na sensibilidade que evidenciamos nossas práticas acadêmicas. Reconhecer essa experiência que se sobressaiu entre a pandemia e o pandemônio deve ser uma atividade constante da nossa associação.
Estamos, portanto, diante de um ponto de inflexão.
Os próximos dois anos serão decisivos para as universidades públicas. Estará em jogo a possibilidade de retomada do processo político que permitiu construir a UFABC como um projeto ousado, democrático e inovador no sistema de ensino superior do país e nos fez querer dedicar parte importante das nossas vidas ao ensino, à pesquisa e à extensão.
As universidades públicas, como sabemos, são alvo privilegiado tanto da extrema-direita quanto do neoliberalismo. Para a primeira, a universidade representa uma ameaça porque é um espaço de liberdade, de autonomia do pensamento, de produção de ciência e cultura, de crítica e reflexão. Para o segundo, a universidade é um projeto desnecessário e excessivamente custoso, porque ancorado em uma produção pública, e não privada de conhecimento, em carreiras de Estado e não em lógicas ultracompetitivas, em inclusão e mérito e não em cobrança de mensalidade, em um projeto de soberania e autonomia e não de inserção acrítica ao sistema internacional. Em suma, para essas forças, a universidade pública, gratuita e de qualidade; crítica, inclusiva e socialmente referenciada não deve existir.
Nesse sentido, o período eleitoral que se aproxima será um divisor de águas entre essa possibilidade de reconstrução e transformação do país e o aprofundamento da barbárie. A reconstrução e transformação são, de fato, apenas uma possibilidade, pois ainda que Jair Bolsonaro seja derrotado nas urnas, a extrema-direita não desaparecerá do mapa e o neoliberalismo, independentemente de quem vença a eleição, continuará a impactar de modo decisivo, com seu projeto econômico-político, nossas vidas sociais, pessoais e profissionais, de dentro e de fora do governo, exigindo de nós muita disposição de luta.
Ao nos propormos a assumir a diretoria executiva da ADUFABC pelos próximos dois anos, acreditamos que a despeito de nossas muitas diferenças internas, será possível vencer essa dupla ameaça se nos unirmos naquilo que nos aproxima e nos define como categoria: a defesa intransigente da universidade pública e, com ela, da sua autonomia, das suas políticas de inclusão e democratização, do seu orçamento público e da estruturação completa das suas carreiras internas.
A apresentação da nossa chapa para a Diretoria Executiva da Associação de Docentes da Universidade Federal do ABC (ADUFABC) não é apenas um manifesto, mas um chamamento para o engajamento na defesa daquilo que é comum a nós enquanto categoria: o engajamento com a universidade.
O discurso antissindical, semeado desde sempre por grupos políticos que se beneficiam justamente da desagregação das categorias profissionais, precisa ser combatido e superado entre nós. O associativismo docente é uma arma poderosa contra as ameaças às nossas condições de trabalho, à nossa carreira e à própria existência do sistema público de ensino e pesquisa no país. Exemplo recente disso foi a firme atuação da ADUFABC para salvaguardar as condições de progressão funcional docente durante a pandemia, para garantir a permanência dos protocolos vacinais na UFABC e para aprofundar o diálogo com outras categorias que fazem parte da universidade. É para isso que serve um sindicato, que deve funcionar não só como entidade sindical, mas também como associação: proteger quem trabalha e trabalhar por um projeto mais amplo de ensino, universidade e país.
A decisão de representar a nossa categoria pelos próximos dois anos implica comprometer uma parte importante do tempo de nossas atividades individuais em benefício do coletivo. Além dos desafios permanentes da defesa profissional e do debate político aprofundado da universidade, temos pela frente o desafio de aumentar a base de filiados e filiadas da ADUFABC. Precisamos avançar na taxa de sindicalização para garantir nossa capacidade de mobilização e de manutenção de uma infraestrutura mínima em benefício dos e das associadas, avançando na garantia de direitos e benefícios que ainda não conseguimos na UFABC e que vão desde o adicional por insalubridade, passando pelo adicional por deslocamento intercampi, chegando à creche, à casa do/a professor/a, à um espaço recreativo, dentre outros direitos e benefícios. Queremos, no próximo período, nos empenhar nisso.
Uma universidade pública de excelência precisa de categorias profissionais fortes. Uma categoria forte depende de pessoas dispostas a participar da construção das agendas internas e dos debates relevantes. Fora dos nossos cursos, projetos de extensão, laboratórios e grupos de pesquisa, há uma série de disputas e debates políticos dos quais é necessário tomar parte, para além daqueles poucos que a cada dois anos se apresentam para representar a categoria na ADUFABC. Precisamos de todos, todas e todes. O próximo período não será fácil, mas traz uma abertura a novas formas de imaginar nossa existência. Se estivermos juntos, trabalhando coletivamente, certamente teremos muito a construir. Viva a universidade pública! Viva a UFABC!
Chapa para a Diretoria Executiva da ADUFABC
Universidade contra o fascismo e o neoliberalismo (2022-2024)
Fernando Cássio (CCNH) – Presidente
Maria Caramez Carlotto (CECS) – Vice-presidenta
André Pasti (CECS) – Secretário Geral
Luis Roberto de Paula (CECS) – Primeiro Secretário
Valter Ventura da Rocha Pomar (CECS) – Tesoureiro Geral
Victor Ximenes Marques (CCNH) – Primeiro Tesoureiro
Anastasia Guidi Itokazu (CCNH) – Diretora de Imprensa, Comunicação e Cultura
Silvio Ricardo Gomes Carneiro (CCNH) – Diretor de Relações Sindicais, Jurídicas e Defesa Profissional
Representantes de Base da Direção Colegiada
CCNH
Rafael Cava Mori (CCNH / titular)
Marco Antonio Bueno Filho (CCNH / suplente)
Luciana Aparecida Palharini (CCNH / titular)
Carlos Eduardo Ribeiro (CCNH / suplente)
CECS
Luciana Rodrigues Fagnoni Costa Travassos (CECS / titular)
Salomão Barros Ximenes (CECS / suplente)
Francisco de Assis Comaru (CECS / titular)
Valéria Lopes Ribeiro (CECS / suplente)
CMCC
Rodrigo Roque Dias (CMCC / titular)